começou.

misto de raiva e saudade. uma culpa que não cabe em mim.
um martírio.
já sinto vontade de morrer. pra estar perto, pra pedir perdão.
foi o que ficou: um desespero tardio porque é culpa.

quando esse desespero vem é sempre a mesma imagem na cabeça. eu, descontrolada, tentando tirar ele daquele lugar, de dentro daquela caixa, gritando o nome dele. as pessoas olhando pra mim. cheio de estranhos no lugar. tenho certeza que nem metade daquelas pessoas gostavam dele. estão lá por compaixão a mim e a minha família. vocês não entendem. se não entendem não têm o direito de pegar no meu ombro e dizer que tudo está nos planos de deus. meu pai não é igual aos outros. ele não esperava que vocês lhe dessem a mão. ele foi sozinho. desde o começo. sem pai, sem mãe. ele não espera que vocês chorem por ele. me deixa sozinha com ele. grito mais forte pra ver se ele ouve e acorda. gente tentando me tirar de perto. me deixa em paz. me deixa com ele. minhas amigas tentando me acalmar. grito pra elas saírem. grito o nome dele. ele não levanta. não olho o rosto dele pois sei que aquilo tudo é brincadeira e ele vai entrar pela porta rindo da minha cara. grito alto. volta. olha pra mim. não adianta. me tiram de lá. odeio todo mundo e só gosto dele. quero ir até o buraco que cavaram e ficar lá pra morar com ele. pensem o que quiser. eu quero viver com ele.
não deixam.
não me deixam escolher.
eu sou obrigada a levar esse constante martírio de viver e reviver o que me dói. por você, mãe, pois eu sei que você não suporta mais nenhuma perda. nenhuma queda. nenhuma lágrima.
entenda que é só por você, por ele, e pelo pequeno. entenda.

enquanto isso, vivendo por outrem, espero teu sorriso entrando pela porta dizendo que você adora uma aventura e que tudo não passou de uma brincadeira.
estou esperando.

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